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sábado, 5 de setembro de 2015

[cotidiano] Seca intensifica crise hídrica no RN

O Rio Grande do Norte passa atualmente pela pior seca desde 1911, ano em que foram feitos os primeiros monitoramentos de chuva na região Nordeste. Já são quatro anos ininterruptos com chuvas abaixo do esperado, superando em volume pluviométrico a histórica estiagem registrada entre 1979 e 1983 no RN.   

O balanço atual, segundo dados da Companhia de Águas e esgoto do RN (Caern), mostra que já são 35 municípios em rodízio de abastecimento, nas regiões do Alto Oeste e Seridó e outros 12 em colapso total de abastecimento, ou seja, sem receber água nas torneiras em nenhum dia da semana - nessa situação há nove cidades do Alto Oeste e três do Seridó.   

Na última terça-feira (1º) foi a vez dos municípios de Acari e Currais Novos, ambas no Seridó, entrarem em colapso de abastecimento. O Açude Gargalheiras, situado em Acari e que abastece as duas cidades, chegou a um nível tão baixo que impossibilita a captação de água para distribuição. Da última vez que o volume do açude foi medido pela Semarh, em 18 de agosto, foi contabilizado um volume de 86,6 mil m³ de água, o que equivale a 0,2% da capacidade do reservatório.   

Conforme explica a diretora de empreendimentos da Caern, Geny Formiga, até a próxima quarta-feira o abastecimento em Acari será feito com caminhão pipa. A partir de quarta a Caern vai utilizar dois poços que foram perfurados na comunidade de Bulhões, em Acari, e bombear água para a estação de tratamento de Gargalheiras.   Em Currais Novos a população também está sendo abastecida por meio de carro pipa. A água está sendo captada de uma adutora em São Vicente até um reservatório da Caern no município.   

“Quando entra em colapso a primeira providência da Caern é suspender o faturamento, ou seja, ninguem recebe conta de água. Além disso, o contrato que a Caern tem com a prefeitura do município é distribuir enquanto tem água; quando acaba, esse compromisso cessa e passa ser da prefeitura, estado e União”, explica Geny.   

Além de a seca atual já ter superado o recorde anterior em volume de chuva, caso a situação persista no ano que vem haverá mais um número histórico alcançado, pois será igualada a marca de cinco anos de seca registrada entre as décadas de 70 e 80.   

De acordo com o setor de Meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Emparn), entre 79 e 83 a média registrada ficou entre 400 e 500 milímetros de chuva por ano; entre 2012 e 2015 a média anual está abaixo de 400 milímetros.   

“Esta seca já é histórica por essa razão, pelo volume de chuvas. Se 2016 continuar assim será alcançado o recorde da seca anterior, de cinco anos, além de já ter superado em volume de chuvas”, confirma o meteorologista da Emparn, Gilmar Bristot.   

Conforme dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), a situação volumétrica dos açudes, barragens e lagoas é crítica. Dos 51 reservatórios - com capacidade superior a 5 milhões de m³ - 19 estão com menos de 5% de sua capacidade, dos quais 15 estão com menos de 1% e oito estão completamente zerados.   

Como explica o meteorologista da Emparn, entre 2012 e 2014 a seca se deu em razão da influência direta das condições não favoráveis do Atlântico Sul, que apresentou águas mais frias do que o normal, o que contribui para a diminuição de chuvas no Nordeste brasileiro.   

Em 2015 a razão das poucas chuvas foi a interferência do fenômeno El Niño (alteração da temperatura nas águas do Oceano Pacífico) a partir de março passado, o que causou a interrupção de chuvas no interior do RN. Se o fenômeno persistir até fevereiro de 2016, tudo indica que no ano que vem o estado amargará mais um ano de seca.   

“Mas ainda é cedo para esses prognósticos. Estamos estudando as alterações e ainda não temos nada definitivo. Pode haver variações nos próximos meses, de modo que só teremos os primeiros prognósticos quanto a isso em meados de outubro”, explica Gilmar.   

Para recuperar boa parte dos reservatórios do estado, segundo Bristot, é necessário que chova no estado entre 1.000 e 1.200mm em 2016. Para este ano não há previsão de chuva até dezembro, já que no período que compreende o segundo semestre é normal que haja estiagem, com chuvas isoladas que não trazem mudanças significativas para a situação da seca. “É uma situação imposta pela natureza”, completa. 
Fonte: Novo Jornal

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