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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

[segurança] Facção que domina presídios no RN fortalece caixa com rifa e mensalidade

As investigações que apontam a existência de líderes de facções em presídios do Sudeste do país ditando regras e dominando ações criminosas a partir de penitenciárias no Rio Grande do Norte, também revelam que tais organizações criminosas não sobrevivem apenas do comércio de drogas e assaltos. O G1 teve acesso a documentos que fundamentam as denúncias feitas pelo Ministério Público, responsável pela Operação Alcatraz. Além de rifas baseadas em jogos da loteria federal, cada membro é obrigado a pagar mensalidades que custam R$ 400. A cota é chamada de 'cebola'. O termo é usado pelo fato de o membro não querer pagar o valor estipulado. Por isso ele 'chora' ao desembolsar a quantia, assim como quando se corta uma cebola.

Deflagrada no dia 2 deste mês, a Operação Alcatraz cumpriu 223 mandados de prisão em 15 cidades potiguares e também nos estados da Paraíba, Paraná e São Paulo. Destes, 154 foram contra pessoas que já estão encarceradas. Segundo o MP, duas facções dominam os presídios potiguares. Ambas, ainda de acordo com as denúncias, surgiram a partir de uma organização criminosa que nasceu em São Paulo. No domingo, o 'Fantástico' exibiu gravações que mostram como esta facção vende drogas no Nordeste.

Um dos anexos da denúncia traz extratos de uma conta bancária que foi identificada pela Justiça - e já bloqueada - como pertencente a um dos membros da facção. Nela, constam vários depósitos de R$ 400. Os valores são equivalentes, segundo as investigações, ao pagamento das mensalidades, as chamadas 'cebolas'. O extrato mostra a quebra do sigilo no dia 28 de maio deste ano até o dia 20 de junho. No dia 11 de junho, o saldo chegou a quase R$ 35 mil. No mesmo dia foi feito um saque no valor de R$ 20.900 na boca do caixa, seguido de depósitos variados, a maioria também no valor de R$ 400.

Em uma das teleconferências interceptadas pela Justiça, participam 10 presos. Um deles, identificado como Milenium, cumpre pena na Penitenciária de Catanduva, no Paraná. Os demais atendem pelos apelidos de Boy, Iran, Batera, Oié, Miguel, Japonês, DG, Das Arábias e Tony Country. Em determinado momento, Milenium fala das mensalidades que devem ser pagas e de um dinheiro que já está no caixa, cintando uma quantia de R$ 20 mil que seria usada para a aquisição de armas. Milenium frisa que os membros da facção que estão nas ruas têm que se unir, “pois as peças vão chegar para auxiliar, correr atrás da moeda, meter assaltos, com responsabilidade". Ele fala que serão designados irmãos (membros) da Paraíba, de Pernambuco e até 'da terra da garoa', se referindo a São Paulo.

Milenium diz também que, “quem estiver procurando a sintonia, plugando, vai ter um fôlego para poder pagar, não que deixará de pagar, mas terá um prazo”. Em seguida, ele faz um discurso motivador dizendo para que tenham mais confiança, espírito de guerreiro: "somos tudo bandido, criminoso, nós mata, nós sequestra, nós rouba. O caixa está aí, com os 20 mil, e se conseguir comprar pistolas a 3 mil, serão cinco ou sete pistolas, serão 7 irmãos com 'chuteira para jogar seu futebol'. Acreditem no Comando”, enfatiza.

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