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terça-feira, 1 de abril de 2014

[política] Deputado Kelps Lima compara o Arena das Dunas a um carro 0km


Chegou a hora, após a comemoração pela inauguração da Arena das Dunas chegou a hora de começar a pagar a conta, 10.000.000,00 (dez milhões de reais) por mês, durante 11 anos.. O Estádio tá novinho, bonito, confortável. Não tem como não gostar da Arena, mas a conta é salgada.

Entretanto, a Arena das Dunas foi e vai continuar sendo um investimento de alto risco para o Rio Grande do Norte. Sua construção foi um requisito necessário e obrigatório para sediarmos o maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol. A Arena das Dunas nos proporcionou uma oportunidade única e imperdível. Contudo, esse investimento só será positivo se, agregado a ele, tivermos todo um retorno para os vários setores da economia do Estado.

A construção da Arena das Dunas por si só, dificilmente trará algum lucro, muito pelo contrário, deixará uma enorme dívida para o RN. A compensação pela sua construção deveria vir de outros tipos de retornos que a Copa pode trazer: obras de infraestrutura, campanhas educativas para termos um legado cultural, qualificação da mão de obra no setor do turismo, divulgação de Natal para todo planeta, Know-how em eventos de grande porte, entre outros. Fizemos o dever de casa? Vamos conseguir tirar todo o retorno que uma Copa do Mundo pode nos dar?

Não queremos que a Arena das Dunas seja como a compra de um lindo carro 0 km e 100% financiado, sem nada de entrada.

Quando alguém compra um carro dessa forma tem mais ou menos a mesma sensação que todos estamos tendo com a nova Arena: orgulho pela aquisição do objeto de desejo, cheirinho de carro novo, os amigos e vizinhos invejando seu passeio com o possante novinho e brilhante. O carro novo não tem nenhum ruído, os pneus ainda estão “peludos”, o motor atende ao primeiro toque, todos querem usar.

Ocorre que, junto com o carro novo, vem o “carnê” com 60 pesadas prestações para pagar, e depois de um ou no máximo dois anos, o carro deixa de ser novo, os pneus precisam ser trocados, o cheiro de novo ficou há muito para trás e o seu vizinho e seus amigos já não mais elogiam seu possante. Depois desse período o ex-feliz proprietário do carro novo não consegue sequer que o banco receba o carro de volta pelo valor da dívida.

A Arena das Dunas foi construída assim, “comprada” 100% financiada, através de uma parceria onde a construtora baiana OAS pegou o dinheiro emprestado junto ao BNDES e vai receber do Estado R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) por mês durante 11 anos. Depois, por mais três anos, outras parcelas mensais de R$ 2,7 milhões. Além disso, há uma garantia mínima de lucro, baseada em um estudo de viabilidade. Se o estádio não der o lucro esperado, o governo estadual garante a diferença. É um carnê gigantesco que o Rio Grande do Norte adquiriu.

Contudo, tanto o carro quanto a Arena podem fazer valer a sua compra, basta para isso renderem dividendos para os seus donos. Um carro novo, na mão de um bom vendedor, pode lhe gerar ganhos que vão fazer com que a compra seja um bom negócio, apesar do longo financiamento.

É bom destacar que, como o Governo do Estado fez uma PPP (parceria público-privada) com a OAS, terá direito a 50% dos lucros com o uso da Arena, ou seja, pode abater as prestações do recém adquirido carnê. Se, por acaso, o estádio render R$ 22 milhões de lucro por ano, o Governo não vai gastar um centavo pelo estádio. Se der prejuízo, o Estado paga a conta sozinho.

A Arena, para dar retorno, tem uma equação bastante complexa. De saída já pode se imaginar que é quase impossível esse lucro vir das bilheterias dos jogos de futebol. A renda dos jogos do último domingo, com estádio quase lotado foi de R$ 469.230,00; deste montante, R$ 301.302,39 foram gastos (aproximadamente 65% do total) para a quitação dos custos dos jogos.

O novo estádio terá na copa a capacidade para 42.000 pessoas e 31.375 depois do evento. Em sua inauguração recebeu 19.244 pessoas, mesmo tendo ABC e América em campo. E sabe quantas vezes teremos esse estádio lotado a partir do próximo ano? Pouquíssimas!

Para a Arena dar o retorno do gigantesco investimento feito é preciso que o Estado saiba usar todas as oportunidades que a Copa oferece e, infelizmente, algumas delas já foram perdidas. Quanto o Governo gastou nos últimos anos divulgando o turismo do RN fora do Estado? Quais foram as campanhas educativas patrocinadas pelo Governo nesse período para termos uma herança cultural no trânsito, na coleta de lixo e no uso da água, por exemplo? Qual a mudança sentida por nós potiguares no nível de qualificação dos trabalhadores na área do turismo? Quais os valores dos recursos captados junto ao Governo Federal sem contrapartida ou sem ser pela via dos empréstimos? Quais os grandes projetos promovidos pelo Estado para alavancarmos o atendimento emergencial nas áreas de saúde e segurança?

Queira Deus que os investimentos que vieram e o projeto de viabilidade financeira da Arena (tomara que exista um!) livrem nosso combalido Rio Grande do Norte de uma tremenda ressaca. E que, se tudo der errado, que fique pelo menos DEFINITIVAMENTE uma lição: Precisamos de governos que estejam prontos para desenvolver projetos complexos e de médio e longo prazo. Fazer obra sem projeto, um bom projeto de viabilidade, e com dinheiro financiado é o mesmo que comprar um carro zero sem saber como vai pagar as parcelas. A diferença é que, o carro o banco toma, leva a leilão e só o dono paga a conta. Já a Arena.... será paga por todos nós!

Kelps Lima
Deputado Estadual pelo Partido Solidariedade no Rio Grande do Norte

Um comentário:

  1. Isso é no Brasil todo! Estão reajustando os impostos de tudo e quase todo dia para o povo pagar essa conta.

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