É debaixo do sol forte que os agricultores do Sítio do Góis, na zona rural de Apodi, região Oeste potiguar, fazem a preparação da arena que vai receber a o espetáculo da Paixão de Cristo. A encenação na comunidade já virou tradição ali, em pleno sertão nordestino. Para que tudo fique pronto a tempo, os agricultores e moradores da comunidade começaram o planejamento ainda em dezembro do ano passado.
Os cinco palcos que já ficam o ano inteiro montados recebem os últimos acabamentos. O cenário é todo reaproveitado, feito com o que é encontrado na própria caatinga, além de materiais cecicláveis, como pneus velhos e palets. Todo mundo ajuda. Na localidade, o operário também é ator. O agricultor Iago Barbosa, por exemplo, vai interpretar Caifás pela terceira vez.
"Tô ficando velhinho no personagem, mas todos os anos a gente inova o texto, sempre tem algo novo para passar para o público", diz.
Já são 9 edições. Em 2018 tem novidade: pela primeira vez, o episódio da Santa Ceia será interpretado.
Pra quem é da comunidade do Góis, encenar o espetáculo A paixão de Cristo é motivo de orgulho. Eles fizeram a montagem pela primeira vez no início dos anos 2000. Mas, por falta de recursos, a última encenação tinha acontecido em 2005. Em 2016, toda comunidade se mobilizou pra voltar a fazer a peça.
As costureiras da comunidade ajudam na fabricação dos figurinos. O tecido para fazer as roupas também é doado. Quem pode, dá o lanche para os voluntários que trabalham diariamente na construção do cenário. As peças que compõem a ambientação dos locais por onde cristo passou durante a Via Crucis e os acessórios são materiais recicláveis. A própria vegetação da região e a palha da carnaúba se transforam em decoração. Os escudos dos soldados, são feitos com calotas de carros.
Espetáculo da Paixão de Cristo é montado por agricultores na zona rural de Apodi (Foto: Reprodução/Inter TV Costa Branca)
Cerca de 70 atores, todos da comunidade, encaram esse desafio de viver os personagens e figurantes dessa história milenar, que conta o martírio e a crucificação de Jesus. E todo mundo participa do espetáculo. são crianças, adolescentes, adultos e até idosos. Segundo Ducivan de Oliveira, diretor da obra, para os moradores esse é um dos momentos mais importantes do ano. “Eles trabalham sem cobrar nada. Ao contrário, ainda ajudam. Vêm deixar lanche, água, café pra quem está trabalhando na montagem do cenário”, conta.
O Sítio do Góis tem cerca de 110 famílias, mas pessoas de comunidades vizinhas também participam. A novidade este ano é que o texto mudou e foram feitas algumas adaptações. A encenação acontecerá entre os dias 29 e 31 de março.
Bartô Ferreira é agricultor é tratorista. Nas últimas semanas, porém, o trator foi deixado de lado. No lugar dele, outras ferramentas de trabalho, como o arame e o alicate. A rotina de trabalho é intensa, já que é preciso conciliar a montagem com as atividadade do dia-a-dia no campo.
"A gente trabalha um periodo aqui de manhã, de tarde fica em casa, cuidando dos animais. Se tem uma horazinha a mais, vai pro cercado, cortando terra, plantando. O dia fica pequeno pra tanto serviço que a gente tem", conta o homem que vai interpretar o rei Herodes.
"Tudo vai ser mostrado de forma clara, objetiva, onde as pessoas vão fazer uma boa reflexão do que foi a vida de Jesus Cristo", diz o diretor Ducivan de Oliveira.
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