A reunião de ministros de Finanças do G-20 que começou nesta segunda-feira em Buenos Aires teve um alto conteúdo político. Depois de uma reunião à margem do encontro oficial, cerca de dez países concordaram em pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI) recursos para ajudar mais de dois milhões de venezuelanos que emigraram durante o chavismo. O dinheiro não iria para a Venezuela, mas para os países de acolhida, especialmente aqueles fronteiriços em que a situação é crítica, como a Colômbia, onde as autoridades de imigração registraram a entrada de 340.000 venezuelanos, e o Brasil, que acolheu 40.000 refugiados que entraram no pais através do Estado de Roraima.
Um porta-voz do FMI disse mais tarde ao EL PAÍS que o organismo “entende que essa ideia tem como objetivo ajudar países vizinhos da Venezuela a lidar com a afluência de refugiados”. “Estamos sempre dispostos a ajudar nossos membros a enfrentar circunstâncias adversas imprevistas, utilizando nossas diferentes ferramentas. Esperamos discussões posteriores nas quais nos envolvamos “, declarou.
Paralelamente à ajuda aos refugiados, os países prometeram pressionar de forma bilateral o Governo de Nicolás Maduro. O ministro da Fazenda do Brasil, Henrique Meirelles, já anunciou em entrevista coletiva que o Governo Temer exigirá de Caracas a quitação de uma dívida de 1,3 bilhão de dólares. Outros países, segundo Meirelles, tomarão uma medida semelhante. O ministro brasileiro marcou assim distância de China e Rússia, ausentes da reunião, que “defendem uma moratória que suspenda os pagamentos venezuelanos”. Sobre a ajuda aos refugiados, Meirelles esclareceu que o dinheiro não será destinado ao Governo de Maduro, mas a “ajudar dezenas de milhares de refugiados que deixaram o país caribenho”. A chegada de venezuelanos já obrigou o Governo Temer a duplicar a presença militar em Roraima em fevereiro. “Houve consenso sobre a Venezuela e vamos tentar influenciar uma solução de todas as formas possíveis, especialmente para a crise humanitária”, disse o ministro brasileiro.
A possibilidade de aplicar sanções à Venezuela é um tema recorrente na região, mas qualquer estratégia comum encontra a resistência dos países do eixo bolivariano, com Bolívia e Equador à frente. A Argentina foi um dos principais impulsionadores. Em julho passado, durante a cúpula de presidentes do G-20 realizada em Hamburgo, Alemanha, Mauricio Macri pediu que o grupo desse especial atenção “à violação dos direitos humanos na Venezuela”. Agora, como país anfitrião, decidiu avançar nesse sentido.
Participaram da reunião no ministério de Finanças, a poucos metros da Casa Rosada, os representantes de todos os países europeus do grupo, além de EUA, Japão e o Brasil. A Argentina convidou também o México, membro pleno do G-20, e Peru, Colômbia, Chile e Paraguai. Das discussões saiu a proposta de se dirigir ao FMI no mês de abril em Washington, onde se realizará a reunião de primavera do organismo, e a decisão de promover sanções.
Os EUA foram representados pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. Em nota, sua assessoria de imprensa disse que os participantes da reunião procuraram “abordar a tragédia econômica e humanitária” na Venezuela e pediram “eleições livres, justas e duradouras”.
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