O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, conversou com o senador Tasso Jereissati (CE), comandante interino do PSDB. Foi um diálogo franco. Falaram sobre a hipótese de afastamento do presidente da República. Tasso queria saber o que Maia faria se o trono lhe caísse no colo. E o substituto constitucional de Michel Temer esboçou alguns compromissos. Entre eles o de manter a equipe econômica, retomar a reforma da Previdência e higienizar o gabinete ministerial. Chegou mesmo a dizer que não hesitaria em deslocar do Planalto o seu sogro, Moreira Franco, hoje ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.
Depois desse encontro, ocorrido na quarta-feira, Tasso e outros tucanos, que não suportavam a ideia de ter que chamar Rodrigo Maia de presidente da República, passaram a tratá-lo como um mal menor diante do caos —ou de Temer, que avaliam ser a mesma coisa. A cúpula do DEM assegura que não há uma conspiração contra Temer. Não precisa. Quando um presidente escapa ao controle e consome a si mesmo, o primeiro nome da linha sucessória cresce como cipreste à beira do túmulo. Maia não precisou tramar contra Temer. Pelo contrário, mantém um comportamento discreto.
Temer sabe como essas coisas funcionam. Ele era um vice-presidente “decorativo” quando o derretimento de Dilma Rousseff o levou a afirmar que ”ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo” de 7% de aprovação. Ou que o país precisa de alguém que ”tenha a capacidade de reunificar a todos”. Não imaginou que um ano depois, acomodado na poltrona de presidente, entraria num processo de autocombustão capaz de transformar Rodrigo Maia numa opção para o pós-Temer.
Na noite de quarta-feira, às vésperas de voar para a reunião do G-20, na Alemanha, Temer reuniu seus ministros para cobrar lealdade e empenho na obtenção de votos para derrubar na Câmara a denúncia que o acusa de corrupção. Entre os ministros que ouviram o apelo estava, por exemplo, Fernando Bezerra Filho (Minas e Energia). Horas antes, seu pai, o senador homônimo Fernando Bezerra (PSB-PE), conversava sobre o esfarelamento de Temer com o colega Agripino Maia, presidente do DEM, partido do ministro Mendonça Filho (Educação), outro auxiliar a quem Temer dirigiu seus apelos.
A conversa entre Bezerra e Agripino envolveu também os senadores tucanos Tasso Jereissati e Cássio Cunha Lima, correligionários de mais três ministros submetidos às cobranças de Temer: Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades). Os auxiliares do presidente gostariam de ajudá-lo. O tucano Aloysio chegou a veicular um vídeo defendendo Temer. Mas a Esplanada dos Ministérios não controla Legislativo. Pior: Temer não segura nem as rédeas do seu PMDB.
Pemedebista como Temer, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Rodrigo Pacheco (MG), jacta-se de sua “independência”. Atravessou no caminho do presidente um relator duro de roer para a denúncia que lhe pesa sobre os ombros: Sergio Zveiter (RJ), outro peemedegista que tem orgulho de ser “independente.”
O Planalto receia ser surpreendido por um relatório de Zveiter a favor da concessão de licença para que o Supremo Tribunal Federal transforme Temer em réu, afastando-o da Presidência por pelo menos 180 dias. ”Se o relator, que é do PMDB, der um voto para afastar o Temer, cai uma pilastra. Aí não tem jeito. Quer coisa mais significativa que isto?”, perguntou o tucano Tasso nesta quinta-feira.
As coisas poderiam estar melhores para Temer. Mas o presidente escolheu o seu próprio caminho para o inferno ao receber no escurinho do Jaburu o delator Joesley Batista, da JBS. Já estava cercado de amigos e auxiliares presos e investigados. E tornou-se o primeiro presidente da histório a ser denunciado por corrupção no exercício do cargo. Para complicar, desligou-se da realidade. Diz que a denúncia da Procuradoria é “ficção” e que tudo vai acabar bem porque ”temos um projeto” e a “crise econômica no Brasil não existe”.
Um governo em que o presidente fabrica a partir do nada uma encrenca que pode lhe custar o mandato não precisa de adversários. “A crise caminha com suas próprias pernas”, disse ao blog um dirigente do DEM, para realçar que Rodrigo Maia “não procurou ninguém, foi procurado.” Diante do assédio, acrescentou o apologista de Maia, ”ele não pode continuar como uma esfinge. Precisa falar sobre o futuro, sob pena de se descredenciar como condutor da transição.”
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