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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

[saúde] Metade dos idosos faz sexo e índice é mais alto entre homens, diz pesquisa


“Amor é privilégio de maduros ⁄ estendidos na mais estreita cama,⁄ que se torna a mais larga e mais relvosa, ⁄ roçando, em cada poro, o céu do corpo”, escreveu Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em “Amor e Seu Tempo”, poema publicado em livro de 1951, quando ele tinha 49 anos.

Se, na poesia, o amor é privilégio de maduros, na vida o mesmo nem sempre vale em relação ao sexo -pelo menos para quem já passou dos 60 anos. Cerca de metade dos idosos entrevistados pelo Datafolha relata que costuma ter relações sexuais (53%).

O levantamento ouviu 2.732 pessoas com 16 anos ou mais em todo o país e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O resultado mostra que o declínio da prática sexual é gradativo. Na faixa de 55 a 59 anos, 75% dizem que costumam fazer. Na de 60 a 70, o índice cai a 58% e, depois, a 43% na de 71 a 80 anos.

Após essa idade, 31% afirmam ainda manter relações. (“Pobre carne senil, vibrando insatisfeita, /a minha se rebela ante a morte anunciada”, registrou Dummond em “Para o Sexo a Expirar”, publicado em 1992, cinco anos após sua morte aos 84.)

A redução da atividade sexual está ligada tanto a questões biológicas como sociais, afirmam especialistas. E os dois fatores ajudam a entender também por que há tanta diferença de gênero quando se trata do assunto.

DIFERENÇA

De acordo com a pesquisa, de cada cem homens com 60 anos ou mais de idade, 83 responderam que costumam ter relações sexuais, ante 29 de cem mulheres.

Mesmo considerando-se que há mais idosas do que idosos, a conta não fecha. Teriam eles relações com parceiras mais jovens?

Professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Programa de Estudos em sexualidade do Hospital das Clínicas, Carmita Abdo explica que a idade traz consequências diferentes para elas e para eles em relação ao sexo.

Na menopausa, a mulher deixa de produzir hormônios responsáveis pela lubrificação da vagina, o que pode causar dor nas relações.

Já entre homens, afirma, há a partir dos 40 anos uma queda de um ponto percentual por ano na testosterona, hormônio responsável pelo desejo sexual. “Aos 80 anos, eles têm ainda um apetite razoável”, diz. Também entre as mulheres há uma queda no nível de testosterona, mas, segundo Abdo, trata-se de algo mais difícil de mensurar.

A boa notícia é que soluções não faltam. Para elas, cremes vaginais para a hidratação, de preferência à base de estrogênio (mas não necessariamente); lubrificante para o momento da relação; e, a depender de avaliação médica, reposição hormonal.

Além disso, tanto para eles como para elas, alimentação balanceada e exercícios físicos são fundamentais para garantir uma boa circulação sanguínea e manter o tônus muscular. Os homens contam ainda com medicamentos contra a disfunção erétil, como o Viagra.

O psicólogo e gerontólogo José Carlos Ferrigno lembra ainda que nem tudo é físico. “Sexualidade envolve sentidos, fantasias e representações”, afirma.

Cremes, remédios, estilo de vida e conselhos à parte, é inegável, porém, que fatores de ordem cultural acabam por interferir na busca pelo prazer feminino. “A mulher muitas vezes tem a ideia de que só vai fazer sexo se estiver bonita. Ou, mesmo que tenha a relação, ela fica mais concentrada em como está sendo avaliada ou em se esconder do que ter prazer”, diz Abdo.

A questão esteve presente para Luciana (nome fictício), 82, em boa parte da vida. Após um câncer de mama, passou a usar camiseta nas relações -o que foi um avanço em relação à forma como se sentia antes. “Logo que fiz a cirurgia, não queria nem sair de casa”, conta ela, que prefere não ser identificada.

A reserva em relação à aparência não a impediu, no entanto, de viver o sexo após a terceira idade. Hoje em dia, ela diz não pensar mais no assunto, mas teve um namorado cerca de 20 anos mais jovem quando ficou viúva, quase aos 70.

Longe de ser pior, a experiência sexual na maturidade foi apenas diferente da que ela conhecia antes, no casamento de quatro décadas de duração. “Quando me casei, com 20 e poucos anos, não sabia nada. Chorei de medo antes da noite de núpcias”, diz ela, moradora do residencial Santa Cruz, no Jardim Guedala (zona sul de SP).

“Meu marido me tratava como uma princesa. Com o segundo [homem], sexo era uma coisa mais física, o que também era muito bom.”

Fonte: Folha de São Paulo

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