O ex-diretor de relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, afirmou que o ex-ministro Edinho Silva, quando se tornou tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014, pediu doações por meio de caixa dois para cinco partidos apoiarem a chapa Força do Povo, no valor de R$ 7 milhões cada. Os partidos que receberam as doações ilegais foram, segundo o ex-diretor da Odebrecht, PCdoB, PDT, PRB, PROS e PP.
Alexandrino diz ter ficado responsável pelas negociações com o hoje ministro Marcos Pereira, do PRB, Eurípedes Junior, do PROS, e Fábio Tokarski, do PCdoB. Juntos, esses partidos somaram 3 minutos e 20 segundos de tempo de televisão à chapa presidencial. Em troca, diz o ex-diretor, a empreiteira esperava obter contrapartidas do governo eleito.
— Edinho me passou o nome de quem eu devia procurar nesses três partidos e eu procurei. Ele disse que a orientação vinha do comitê eleitoral da presidente Dilma, que eu soube que era formado por João Santana, Rui Falcão, Aloizio Mercadante, Giles Azevedo e ela, presidente. Primeiro encontrei com Eurípedes Junior, presidente do PROS, no Hotel Ibis do aeroporto de Congonhas. Ele reafirmou esse acordo com o Edinho Silva e partir daí começamos a fazer, via Caixa 2, as entregas em sistemas de hotéis. Eles mandavam mensageiros com codinomes específicos para cada operação. Cada operação era de mais ou menos um milhão de reais — relatou, em depoimento a procuradores em Campinas, no dia 13 de dezembro de 2016
O delator detalha os encontros com os políticos em seu escritório e as entregas de dinheiro, sempre feitas em espécie, por meio de “mensageiros”, em hotéis ou em um flat. Apenas em uma ocasião Alexandrino diz ter feito a entrega pessoalmente, no escritório da Odebrecht, ao então deputado pelo PROS Salvador Zimbaldi.
— Fiz a última entrega ao PROS, de 500 mil em espécie, na minha sala, ao então deputado federal Salvador Zimbaldi, do PROS. Pelo que eu soube, ele não foi reeleito. Foi no nono andar da Odebrecht. Ele chegou com uma mala, colocou 500 mil na mala e saiu — disse Alexandrino.
Ele relata que o esquema com o PRB foi exatamente igual ao do PROS e que, nos casos dos três partidos com os quais tratou, estava “explícito” que as doações se dariam por meio de Caixa 2:
— Eles sabiam, sem dúvida nenhuma (que era Caixa 2). A pessoa de contato no PRB foi Marcos Pereira, que hoje é ministro da Indústria e Comércio. As conversas foram na minha sala. Eles esteve umas 3 ou 4 vezes. Foi um esquema exatamente idêntico ao do PROS. Ele não se surpreendeu, já sabia, era pelo apoio que eles estavam dando — aponta.
O ex-diretor diz que o PCdoB era o partido mais “ansioso” pelas entregas de dinheiro.
— O PCdoB tinha mais pressa em receber recursos, talvez pelas dificuldades de arrecadação do partido. Senti isso pelas ligações insistentes. Esse fluxo é difícil fazer com regularidade. Às vezes escorrega uma semana e sentia que ele ficava mais agoniado — diz Alexandrino.
Alexandrino Alencar afirmou que foi apresentado pelo ex-ministro Gilberto Carvalho a Edinho Silva, ainda durante o governo Lula, quando o petista era prefeito de Araraquara. Alexandrino conta que a Odebrecht contribuiu, via Caixa 2, para a campanha de Edinho a deputado estadual em 2010.
MARCELO TAMBÉM FALOU SOBRE NEGOCIAÇÃO
Marcelo Odebrecht disse num de seus depoimentos que se reuniu “algumas vezes” com Edinho para tratar desse dinheiro para os partidos que integrariam a coligação em 2014. O ex-ministro de Dilma, à época tesoureiro da campanha, teria indicado a Alexandrino que procurasse diretamente os líderes dos partidos para repassar os valores.
O delator esclareceu que “o interesse do PT neste caso era o aumento do tempo de horário eleitoral na televisão”. O tempo de TV da coligação, afirma, ficou em 11 minutos e 24 segundos, sendo que um terço desse tempo, ou 3 minutos e 19 segundos, veio desses partidos comprados.
EDINHO FOI MONITORADO PELA PF
Alexandrino Alencar contou que no fim da eleição foi procurado por um assessor de Edinho Silva, Manoel Araújo Sobrinho, que relatou que o próprio Edinho não poderia mais encontrá-lo porque estava “sendo monitorado pela Polícia Federal”.
Antes disso, porém, o delator relatou encontros semanais com o petista, tanto na sede da Odebrecht em São Paulo, no Hotel Renaissance, no comitê de Dilma na cidade ou no gabinete de Edinho na Assembleia Legislativa de São Paulo.
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