O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, estimou que US$ 96 milhões (cerca de R$ 300 milhões) em carne bovina e derivados estão parados no Porto de Santos (SP), impedidos de seguir viagem ao exterior por causa do veto à proteína brasileira.
A suspensão das compras de carnes bovina, de frango e suína vem ocorrendo desde que a Polícia Federal deflagrou, no dia 17 de março, a Operação Carne Fraca, que apurou fraudes na fiscalização da proteína animal em frigoríficos brasileiros. Ao menos 22 países ou blocos econômicos já bloquearam as importações de alguma forma, segundo levantamento mais recente do Ministério da Agricultura.
Assim, conforme Camardelli, carnes bovinas destinadas a portos da China, Hong Kong, Egito, México e Chile seguem bloqueadas no terminal portuário.
“Além do problema nos portos brasileiros, também temos a incerteza quanto a cargas que já estão no mar e que não sabemos se poderão ou não entrar nos países de destino. Na maioria dos casos, a suspensão (à carne brasileira) não vem com esses detalhes”, explicou o presidente da Abiec, acrescentando que a entidade ainda não tem um número consolidado das perdas ocasionadas até agora.
A situação é bastante preocupante porque entre os principais clientes brasileiros estão China e Hong Kong, que mantêm o veto à carne bovina brasileira praticamente desde que a Operação Carne Fraca ganhou o noticiário nacional e internacional. Do total da proteína bovina exportada pelo Brasil, a China comprou no ano passado o equivalente a 25,7% e Hong Kong, a 47,3%, conforme dados da Abiec.
Para tentar reverter a situação, a Abiec, juntamente com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa o setor de suínos e aves, vem trabalhando com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e traçando estratégias. Uma delas, confirmou Camardelli, seria uma missão brasileira aos países que suspenderam as compras da carne brasileira com a presença do ministro Maggi.
“A primeira visita, que possivelmente contará com Maggi, seria a China e Hong Kong, seguindo depois para Argélia e Egito (um importante mercado para o Brasil e que vinha ampliando significativamente as compras desde janeiro)”, disse o dirigente. Conforme ele, o ministro tem demonstrado grande disposição em participar dessa missão que, acredita Camardelli, terá um peso maior caso Maggi integre a comitiva.
O representante da Abiec elogia, ainda, a atitude do Egito, que decidiu bloquear apenas as compras de produtos dos frigoríficos investigados pela Operação Carne Fraca, e não carne de todos os exportadores brasileiros. “Nada mais justo que os países que queiram determinar alguma sanção que façam somente sobre as empresas investigadas, e não sobre toda a produção local, já que não se trata de uma falta de controle do sistema, e sim de um processo de corrupção burocrática.
Camardelli confirmou também que o governo recebeu hoje uma equipe do Chile e que, segundo informações de participantes, tudo caminhou bem. “Provavelmente algumas explicações adicionais podem ter sido solicitadas, mas o fato de o governo chileno estar aqui, atendendo a uma solicitação do Brasil, é um indicativo de que podemos ter bons sinais a partir da semana que vem”, ponderou.
Apesar do cenário de dificuldade, o representante da Abiec destacou que, por enquanto, nenhuma das indústrias associadas mencionou a possibilidade de demissão de funcionários. “Faço questão de citar isso. A primeira fase desse processo é o reagendamento dos abates, não há nada sobre demissões.”A JBS anunciou, ontem, que suspendeu, por três dias, a produção de carne bovina em 33 unidades das 36 que a empresa mantém no País. Para próxima semana, a companhia vai operar em todas as suas unidades com uma redução de 35% da sua capacidade produtiva, conforme anunciou.
Fonte: Estadão
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