Os juros do cartão de crédito, que superam 330% ao ano, atingem principalmente os mais pobres. 80% dos que atrasam o pagamento da fatura fazem parte das classes D e E, que recebem até 3 salários mínimos por mês (até R$ 2.811), segundo levantamento da Boa Vista SCPC obtido pelo G1. Na outra ponta, a classe mais rica (A, com ganho mensal superior a 15 salários mínimos, ou R$ 14.055) concentra apenas 1% dos atrasos na fatura.
O gasto com itens de primeira necessidade é o principal uso que o brasileiro faz do cartão de crédito. Um estudo da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) com dados de setembro mostra que os alimentos aparecem na fatura de 50% desses consumidores. Em seguida, vêm os produtos de farmácia, consumidos por 37%.
"Muitas vezes o cartão é a única forma de aquisição de bens e serviços possível para sobreviver”, diz a educadora financeira e diretora da Fharos Contabilidade & Gestão Empresarial, Dora Ramos. Segundo ela, o desemprego e a renda mais baixa incentivam o uso do cartão como salário, ou seja, como fonte de receita, e não de dívida (crédito).
Quando isso acontece, o consumidor gasta o que não tem. Quando a fatura do cartão não é paga durante um ano, uma dívida de R$ 1.000 que entra no rotativo salta para mais de R$ 4.300 com os juros de 330% ao ano desta linha de crédito.
Se esse consumidor estivesse devendo em uma linha mais barata como o crédito consignado, cuja taxa é de 26,58% ao ano, a dívida seria bem menor, de R$ 1.265,80.
“É muito fácil perder o controle e não conseguir pagar a fatura ", diz Dora.
A facilidade para obter um número ilimitado de cartões, aliada à falta de informações a respeito das transações, são fatores que contribuem para o endividamento.
Pesquisas mostram, ainda, que o brasileiro tende a parcelar suas compras no cartão de crédito. De acordo com especialistas em finanças pessoais, tais hábitos multiplicam o risco de descontrole.
Veja, abaixo, um diagnóstico dos principais problemas que levam ao atraso nas dívidas do cartão, segundo especialistas:
Usar o cartão de crédito para fazer as compras básicas do mês;
Fazer um cartão somente para obter descontos em lojas;
Parcelar as compras quando é possível pagar à vista;
Utilizar vários cartões de crédito para aumentar o limite de gastos;
Acumular novas compras parceladas e esquecer das prestações já existentes;
Priorizar o valor da parcela e esquecer os juros da operação;
Pagar o valor mínimo da fatura (15%) quando há dinheiro suficiente para quitar o valor total.
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